Entrevista - Ars Tenebrae

19 abril, 2011.

Maestus Caronte, Aquilus, Morbus e Arthemius Shaytan

O Ars Tenebrae, formado em 2003 em Pouso Alegre (MG) e que atualmente conta com Maestus Caronte (vocal/guitarra), Aquilus (guitarra), Morbus (baixo), Arthemius Shaytan (bateria) e Mystis Asteth (teclados), lança Corpus Angelique, um trabalho que mostra toda a evolução do Black Metal praticado pelo grupo. Nessa entrevista o líder Maestus Caronte, fala sobre a demo Corpus Angelique, participação da horda ao tributo ao Amen Corner, além de seu projeto paralelo Imperium Profanus. (N.E: Esta entrevista foi realizada em 2008 para a primeira edição do Coven Of Darkness)

Por: Saulo Baldim Gandini


1-) Coven Of Darkness - Saudações brother Maestus Caronte! Muito foda ter o Ars Tenebrae nas páginas do Coven Of Darkness Zine! Ouvindo a última demo de vocês, Corpus Angelique, notei uma grande evolução nas composições do grupo. Elas estão mais técnicas e obscuras, mas não perdendo o feeling tradicional que o Ars Tenebrae possui. Em sua opinião quais as principais diferenças entre Corpus Angelique e os trabalhos anteriores?

Maestus Caronte: Saudações. Bem a principal diferença de Corpus Angelique e os antigos álbuns seria a evolução tanto no som quanto em termos ideológicos abrangido nas letras. Esse trabalho nos agradou muito pelo fato de estarmos cada vez mais encontrando uma “cara” para o Ars Tenebrae, podendo assim executar um som mais próprio e pessoal.


2-) Coven Of Darkness - Gostaria de saber o sentimento que você quis provocar nas pessoas ao ouvirem Corpus Angelique. Qual o significado do título desse novo trabalho?

Maestus Caronte: Digamos que a agressividade seria o sentimento mais presente na prévia, mais o maior intuito seria outro. Digamos que muitas pessoas que ouvem a prévia se sentem atraídas pela sua sonoridade, algo normal, mais ao lerem as letras nela abrandada, terão certa surpresa, principalmente pela primeira impressão que elas passam. Uma jogada metafórica usada de maneira mais ousada.
Resolvemos usar o nome de uma música para nomear a prévia pelo fato da música Corpus Angelique expressar bem a idéia prévia. Um fato catastrófico e surreal pode ser ocultado com uma história racional e aceitável pela sociedade e vice-versa. Garanto que nada de angelical está presente nas letras. (risos)


3-) Coven Of Darkness - Caronte você continua responsável pelas composições do grupo? E sobre as letras, quais os temas abordados em Corpus Angelique?

Maestus Caronte: Sim, continuo responsável pelas composições, mais hoje em dia o Ars Tenebrae é uma horda mais presente nesses momentos, por isso digo que não sou o único responsável por elas, mais sim por uma boa parte. Em Corpus Angelique abordei muito a comparação de fatos históricos e mitológicos com a atual humanidade, usando de maneira metafórica muitos fatos temidos e rejeitados pela sociedade, relacionando-os com outros fatos e sentimentos de puro auto-contemplação e auto-divinação. Ocultando uma história com a outra, fato sempre presente na sociedade hipócrita que vivemos.


4-) Coven Of Darkness - Como está a distribuição da demo Corpus Angelique? Há planos de distribuição desse trabalho para o exterior?

Maestus Caronte: A demo Corpus Angelique está tendo uma boa aceitação, mesmo sendo uma prévia. As novas composições nela contida estão alcançando o resultado que queríamos, fazendo um som mais agressivo com pegadas de outras vertentes do Metal, mas não fugindo do embasamento Black Metal. Aqui no Brasil a distribuição está sendo feita somente pelo Ars Tenebrae mesmo, mas estamos estudando uma possibilidade de fecharmos com uma distribuidora para podermos abranger também o território internacional.


5-) Coven Of Darkness - A capa da demo Corpus Angelique chama bastante a atenção. De quem foi a idéia e qual seu significado?

Maestus Caronte: A idéia foi minha mesmo. Ao primeiro olhar é uma jogada de imagens de corpos femininos com certa nudez, mas na verdade se trata de fotos retiradas de acidentes, uma jogada de puro sadismo mostrando que algumas notícias podem ser totalmente distorcidas com a ocultação de alguns fatos. A freira é para mostrar que isso também acontece na religião e o rosto no canto superior direito seria a face humana que nem sempre está a par da realidade em que vivemos.


6-) Coven Of Darkness - Todos ficaram satisfeitos com o resultado final da demo, ou algo poderia ter sido mudado na gravação das composições?

Maestus Caronte: A gravação se trata de um ensaio em estúdio, por isso contém erros e até mesmo versões de algumas músicas, que são tocadas de maneira diferente hoje em dia. Em relação ao que poderia ser mudado, em minha opinião, seria o contrabaixo, pois a prévia foi gravada uma semana depois de Morbus ter saído do Ars Tenebrae, ficou faltando certo peso na gravação por causa disso. Já pensamos em gravar somente o contrabaixo nas músicas mais preferimos não, por causa da maneira que ela foi gravada e também por causa do sentimento presente quando a prévia foi gravada. Em breve serão gravadas as músicas da prévia de forma completa com um CD mesmo, aí sim, terá todos os instrumentos com melhor definição.


7-) Coven Of Darkness - Vocês irão participar de um tributo ao Amen Corner, certo? Como surgiu a oportunidade de participar desse tributo? Por qual gravadora sairá esse trabalho e qual a previsão para o lançamento?

Maestus Caronte: Recebemos o convite do M.Mictian (Unearthly) que entrou em contato conosco pela Lys Aeon, sua gravadora. Curtimos pra caralho Amen Corner e pra gente seria uma honra tocar no tributo a um grande nome do Black Metal nacional como eles, por isso não pensamos duas vezes antes de aceitar. O que posso adiantar é que gravaremos a música "Endless Solitude" e o CD deve sair até o fim de Agosto. Os selos responsáveis pelo lançamento serão o Lys Aeon, Extreme Metal e Belial Songs.


8-) Coven Of Darkness - O Ars Tenebrae é um grupo que gosta muito de tocar ao vivo, porém existem bandas que são contrários a apresentações ao vivo. Qual sua opinião a respeito disso?

Maestus Caronte: Respeitamos essa visão mais preservada de outras bandas de Black Metal. O maior motivo pelo qual curtimos tocar ao vivo seria a alimentação de nosso ego, eu principalmente, sou um cara muito egocêntrico e a apresentação ao vivo é uma coisa que, além disso, nos mostra a reação do público ao nosso som. Creio que a apresentação ao vivo é uma das grandes responsáveis pela evolução do Ars Tenebrae.


9-) Coven Of Darkness - Recentemente o grupo teve uma baixa em sua formação com a saída da tecladista Lammia Venefica. Quais os motivos de sua saída e como está o processo de escolha do novo membro?

Maestus Caronte: Realmente a saída de Lammia Venefica nos pegou de surpresa. Ela teve de deixar o Ars Tenebrae por motivos profissionais (emprego). Não pretendemos mudar a formação de banda que temos: duas guitarras, contrabaixo, bateria e teclado. Estávamos tocando juntamente com o tecladista da banda Nightwolf (Itajubá-MG), que nos deu a maior força nos shows e ensaios.
No momento estamos ensaiando com a tecladista Asteth (Imperium Profanus), que mora na mesma cidade que os demais integrantes do Ars Tenebrae, pois é mais fácil a comunicação e presença nos ensaios e shows. A integração de Asteth no Ars Tenebrae ainda é algo discutível, pois preferimos ver a adaptação dela com o Ars Tenebrae.


10-) Coven Of Darkness - Diante desse fato, por acaso vocês chegaram a pensar na hipótese de excluir os teclados na música do Ars Tenebrae?

Maestus Caronte: Alguns membros sim, pensaram na hipótese de tirar os teclados, mais isso seria uma mudança muito brusca para o Ars Tenebrae, principalmente pela “cara” que estamos adquirindo com o passar do tempo e por isso preferimos manter os teclados e evoluir o nosso som da maneira que está. A atmosfera que o teclado proporciona é indispensável para o Ars Tenebrae.


11-) Coven Of Darkness - Muitas pessoas não gostam do uso de teclados no Black Metal, pois segundo elas, este instrumento tira a agressividade e acrescenta melodia ao som. O que você pode falar sobre isso, já que o Ars Tenebrae faz uso de teclados em seu som?

Maestus Caronte: O teclado usado de maneira correta proporciona uma atmosfera e clima bem denso para esse tipo de som. Respeito à opinião dessas bandas, pois creio que a idéia deles em relação a som é bem diferente a da nossa. Gostamos do nosso som e do uso do teclado nele. O teclado no Ars não retira a agressividade e sim acrescenta o clima e atmosfera que desejamos.


12-) Coven Of Darkness - Nos dias de hoje, temos um grande número de bandas que tocam Black Metal. Em sua opinião, uma banda pode ser rotulada como Black Metal, sem possuir um embasamento satânico?

Maestus Caronte: Digo que não, mas a maioria das pessoas tem uma visão errada sobre o “embasamento satânico”. Em nossas músicas, por exemplo, não louvamos ou cultuamos Satã e sim os sentimentos que ele representa. Abrangendo os instintos desprezados pela sociedade, adorando o ego, caminhando para a auto-divinação e auto-contemplação, poderíamos ser tratados por muitos como uma banda que não tem um conteúdo satânico. Esses são os verdadeiros caminhos do satanismo, a adoração do eu, a superioridade diante dos hipócritas, a supremacia ideológica, usar uma imagem com objetivo e não como adoração. Devemos usar o infinito como limite e as entidades e seres satânicos com arquétipos humanos.


13-) Coven Of Darkness - Qual seu pensamento em relação a cena underground brasileira: bandas, público, gravadoras e infra-estrutura para shows.

Maestus Caronte: Hoje em dia, digo que a cena underground, tanto banda, público quanto gravadoras, está bem mais aberta para “negócios”. Muitas gravadoras se interessam pelo underground, não pelo incentivo, mais pelo espaço que esse tipo de “som” esta tendo na mídia. Não estou desmerecendo nenhuma banda que se rotula underground, mas sim criticando muitas gravadoras que usam esse termo para ganhar dinheiro sobre bandas que tem um real intuito de fazer um bom som, com caráter e personalidade. Com a boa aceitação do “publico massa”, os shows estão tendo cada dia mais uma boa estrutura assim melhorando a apresentação das bandas, totalmente ao contrário de alguns anos atrás, quando se ia a um show underground e o equipamento era escasso, prejudicando muitas bandas que deveriam ter se destacado na cena e por esse motivo muitas até hoje se mantém no anonimato.


14-) Coven Of Darkness - Caronte dois fatos importantes estão tendo destaque no underground Black Metal. A primeira é a sonoridade que o Darkthrone atingiu em seu último álbum F.O.A.D, que está com uma pegada bem Heavy Metal e que difere dos trabalhos mais antigos do grupo. A outra é o crescimento de bandas com sonoridade a lá Blasphemy, Beherit e Archgoat. Antigamente existiam grupos fazendo esse tipo de som, mas hoje o aumento de bandas com essa pegada cresceu muito. Selos como Nuclear War Now! e Hell Headbangers estão lançando muitos materiais com essa sonoridade. Como você vê e analisa esses fatos?

Maestus Caronte: Em relação a sonoridade do Darkthrone, não tenho nada do que reclamar, o Black Metal executado por eles sempre se destacou na cena, na minha opinião a mudança sonora é vista como uma evolução musical. Não estou dizendo que o Heavy metal seja uma evolução do Black, não confundam as coisas. Digo evolução pelo trabalho, colocaram uma temática Black Metal em uma sonoridade bem mais Heavy, achei isso foda, já que em minha opinião o Black Metal é a maneira satânica de tocar o Heavy Metal. O crescimento de bandas com sonoridade mais old, Blasphemy e Beherit, vejo como um acontecimento resultante das gravadoras. Existem e sempre irão existir muitas bandas de diversas vertentes do metal extremo, cada uma em um canto e com os seus estilos semelhantes a grandes nomes do metal e o que as gravadoras querem que estoure é o que vai estourar. Elas têm quase que o controle total sobre o som que vai sair do underground e vai para os grandes palcos, creio que esse seja o maior motivo pelo quais muitas bandas com essa sonoridade estejam “aparecendo” na cena.


15-) Coven Of Darkness - Falando um pouco de seu projeto Imperium Profanus, você fechou um contrato com a gravadora Vento Florestal para o lançamento do debut. Como você chegou até eles? O contrato é para quantos álbuns?

Maestus Caronte: Conheço o arte-finalista do selo e sempre trocamos idéias até que pintou a oportunidade e aceitei. A Vento Florestal será responsável pela distribuição do material, até o presente momento de um álbum, podendo ser prorrogado para mais um ou dois trabalhos.


16-) Coven Of Darkness - Existem informações que o debut do Imperium Profanus, irá conter um DVD. Você poderia nos adiantar o conteúdo desse material? Quando será ele será lançado?

Maestus Caronte: As primeiras cópias do debut sairá com um DVD sim, ele terá uma material bônus, como, making off da gravação do debut, entrevista e um vídeo clipe. Esse DVD poderá ser encontrado nas 50 primeiras cópias do debut.


17-) Coven Of Darkness - O que podemos esperar do debut do Imperium Profanus? No que ele difere (sonora e ideologicamente) do Ars Tenebrae?

Maestus Caronte: O debut será uma decepção para todos aqueles que esperam um som agressivo e cheio de riffs poderosos e rápidos como os do Ars Tenebrae. O Imperium Profanus é um trabalho bem mais levado ao satanismo tradicional, se importando mais com o lado ritualístico e sua atmosfera. Uma sonoridade mais seca, porém melódica, não perdendo a obscuridade de sua essência satânica é a chave. Na realidade é um som para poucos. Se gostarem ótimo, caso contrário é só não comprar o debut, ninguém será obrigado a ouvir o que não quer.


18-) Coven Of Darkness - Quais seus planos futuros com o Ars Tenebrae e o Imperium Profanus?

Maestus Caronte: O Ars Tenebrae é uma horda de futuro glorioso e visionário. O Ars Tenebrae irá até onde nos permitir, desde que continuemos fiéis aos nossos ideais e convicções filosóficas, sempre trabalhando em novos materiais, mostraremos cada vez mais o nosso potencial musical e ideológico, executando um som pessoal e com características cada vez mais de “Ars Tenebrae”.
O Imperium Profanus terá uma vida ativa curta, já sei o número certo de álbuns que serão lançados. Cada trabalho terá a sua marca sonoramente falando, completando assim o seu real intuito de existência.

19-) Coven Of Darkness - Maestus Caronte, foi uma honra entrevistá-lo, deixe suas considerações finais...

Maestus Caronte: Agradeço a oportunidade solicitada para expor um pouco sobre o Ars Tenebrae e o Imperium Profanus. Vosso apoio é de grande valor para nós. Continuem assim e só tem a crescer, já que cada dia que passa diminui o número de zines pelo Brasil, principalmente dos que apóiam o metal extremo. Têm o nosso total apoio. No mais meus cumprimentos!


                                                    
                                                              



Contato:  A/C Maestus Caronte
                Rua dos Goivos, 122, Jardim Yara
                Pouso Alegre, Minas Gerais – MG
                CEP: 37550-000
                E-Mail: maestuscaronte@yahoo.com.br
                Myspace: www.myspace.com/arstenebraebr

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