Entrevista - Deformity BR

29 fevereiro, 2012.
Deformity BR - Júlio Nascimento, Lúcio "Brutal" Soares & Yuri Hamayano


                                                                                    Por: Saulo Baldim Gandini 


1-) Coven Of Darkness - Necrosaudações Yuri! É um prazer entrevistar o Deformity BR para o Coven Of Darkness! Primeiramente gostaria que você falasse um pouco da história e proposta do Deformity BR, para as pessoas que ainda não conhecem grupo.


Yuri – A história da Deformity é longa, mas ao mesmo tempo curta, e pode ser resumida em poucas palavras: amor pelo Death Metal. É claro que não é fácil manter uma banda aqui no Brasil, ainda mais no interior da região nordeste. Por conta disso, desde o início da banda (em 1995) que sempre tivemos muitos problemas em acertar a formação. Felizmente conseguimos uma base sólida, que vem firme até hoje sem titubear. Essa base é formada por Lúcio “Brutal” na voz, Julio na guitarra e por mim na bateria. Com essa formação colocamos tijolo sobre tijolo nessa parede death-metálica, e assim conseguimos lançar algumas demos: Fleshless Remains (2001), There’s More Blood Coming (2006) e Advanced Tracks To Anihilation (2009). Com esses materiais conseguimos firmar nosso nome em meio ao cenário underground brasileiro, o que nos rendeu alguns contatos muito interessantes, como o que fizemos com a gravadora Kill Again Records, nos rendendo o lançamento do split Killing All The Posers. Não podemos deixar de citar também o pacto de sangue que fizemos com a Thundergod Prods, viabilizando o lançamento de nosso primeiro álbum: AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia. Quanto a este, parece-me que o tamanho do título é proporcional ao tempo que levou a ser lançado! Ele é um álbum que resume toda a nossa trajetória ao longo de anos de caminhada e trabalho árduos. Nesse momento contamos também com mais um tijolo na parede deformada, chamado Diego “Corpsegrinder”, que está mais uma vez integrando a banda... É assim que estamos trabalhando para a divulgação de nosso debut.


2-) Coven Of Darkness – Vocês têm uma longa trajetória (mais de quinze anos) no necrounderground, tendo lançando durante esse tempo diversos materiais, entre eles quatro demos e um split, até chegarem no debut álbum AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia. Porque a demora em lançar um álbum de estréia sendo que o grupo já tinha um grande potencial nesses trabalhos?

Yuri – Velho Saulo estou tomando esse questionamento como um elogio! São quatro demos? (risos). Então parece que me esqueci de uma ao responder a pergunta anterior! Mas bem, a demo que não citei é composta por apenas uma música. Com isso, apesar de tê-la lançado, sua divulgação foi efetuada de fato junto a demo Fleshless Remains. Realmente, confesso que foi muito tempo até o lançamento de Anthopo...Phagia. Mas lembro desde o início nos cobrávamos bastante para lançar qualquer coisa. Se me lembro bem, também demorou muito até que gravássemos a nossa primeira faixa, em meados de 1999. Nessa ocasião a banda já tinha quatro anos de existência! Mas, além desse aparente medo e excesso de cobranças para os lançamentos, o grande vilão para toda essa demora até o primeiro álbum foi realmente a questão financeira. Imagine, ainda, que todo o processo de gravação do álbum durou, em média, dois anos até ser finalizado (e mais um ano até o lançamento), processo este que não apenas foi influenciado pelo fator financeiro. Espero que o próximo álbum não demore tanto quanto o primeiro!


3-) Coven Of Darkness – A propósito, sobre o título do álbum, como foi a escolha dele? Qual a mensagem que vocês querem passar com este título?

Yuri – O título do álbum está completamente conectado com a concepção da arte gráfica do trabalho, mais que perfeitamente desenvolvida pelo louco do Alcides Burn. O título não existia até termos acesso à arte da capa. Quando vi aquilo lá, sabia que o título teria que ser tão forte quanto. Como a capa é inspirada na letra da música Bloody Banquet, que versa sobre um banquete sanguinário onde são servidas partes humanas de uma pessoa morta naquele instante, veio à mente a palavra antropofagia. No entanto essa palavra é pouco para expressar de maneira contundente todo o sangue, todo o ar de morte, toda a loucura, todo o nojo expresso pela arte. E é assim que nasceu o conceito, tendo as palavras adicionais coladas dentro da antropófaga!


4-) Coven Of Darkness – Gostei muito da produção sonora e também da arte gráfica da capa, para mim mais um grande trabalho de Alcides “Burn”. Como foi desenvolvido o trabalho da capa, vocês opinaram em tudo?

Yuri – Velho, mais uma vez obrigado. É um prazer enorme saber que as pessoas têm apreciado o nosso trabalho. Argh!!! Cara, Alcides é louco! Ele não precisa de muito, além de sua própria mente doentia para desenvolver os seus trabalhos. No nosso caso não foi diferente. Eu apenas lhe enviei as letras das músicas, ele escolheu uma para seguir e pronto. A única coisa para a qual emitimos opinião foi com relação às cores que tínhamos preferência, todo o resto é mérito exclusivo de Alcides! Eu também gostei muito do trabalho que ele desenvolveu! (risos)


5-) Coven Of Darkness - AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia foi lançado pelo selo ThunderGod Productions. Como surgiu o contato com eles? Vocês estão satisfeitos com o trabalho desenvolvido? Por acaso, houve interesse de outros selos, além do ThunderGod, em lançar o debut-álbum?

Yuri – É interessante você perguntar sobre o interesse de outras gravadoras. No início eu pensei que isso seria a parte mais fácil do lançamento, mas não. Entramos em contato com inúmeras gravadoras, mas a questão financeira tem influenciado bastante na decisão de lançar bandas. Muitas delas reclamam enormemente acerca do consumo de CDs... Por isso, com razão, preferem ser mais comedidos na hora dos novos lançamentos. Não sei se esse foi o único fator que contou para o nosso caso, mas o fato é que, salvo pela Thundergod, o máximo que escutamos foi uma indicação de que esperássemos para o próximo ano, o que me deixou um tanto quanto triste. Felizmente conseguimos fechar uma parceria louca com a Thundergod. O contato com Elimar não foi muito difícil, pois moramos na mesma cidade e somos amigos. Ele já havia feito um proposta há algum tempo antes de fecharmos, mas demorou um pouco até negociarmos e fecharmos o lançamento. O trabalho de divulgação está bem legal, e agora será iniciada a segunda etapa! Rolaram também algumas trocas com gravadoras no exterior, o que ajuda muito a mostrar o nosso trabalho pelos quatro cantos.


6-) Coven Of Darkness – A respeito das letras do grupo, quem é o responsável por escrevê-las? De onde vocês buscam inspiração na hora de compor? Livros, filmes e o caótico cotidiano servem como fonte de inspiração nesse momento?

Yuri – A maioria das letras é de minha autoria, mas a infecção contaminou a todos! Algumas letras são inspiradas nos mais estranhos casos reais, sejam eles de estupro, assassinatos comuns ou em série, etc. Findamos adicionando um pouco de ficção (ou mesmo hipérboles), além de muito sangue. Em outras ocasiões, tomamos como ponto de partida alguns relatos encontrados em livros sobre matadores em série, relatos de tortura, sentenças penais de outrora, além de outros singelos sui generis. Creio que o foco principal das letras é expor o pior lado humano, com toda a sua loucura, toda a sua insanidade, todo o seu poder destrutivo, falar sobre a sua decadência, doenças, sobre o lado doentio da mente humana, etc. Isso acaba trazendo um tom de realidade para as letras, em vez de apenas inventar histórias doentias.


7-) Coven Of Darkness – Vocês são do estado da Bahia, mais precisamente Feira de Santana. Além de vocês, a Bahia é o reduto de conceituados grupos da cena necrounderground como Mystifier, Headhunter DC, Incrust, In Infernal War, Eternal Sacrifice, Poisonous, etc. Como anda a cena baiana (bandas, zines e shows), principalmente em sua cidade Feira de Santana? Já li em alguns zines que rola umas tretas na cena daí, o que você pode me falar sobre isso?

Yuri – Tomando como inspiração a luta de bandas como Mystifier e Headhunter, não a como a Bahia não ser um grande celeiro de bandas talentosas. Eu precisaria de umas dez páginas para enumerar uma pouca quantidade de bons nomes na cena metal. Ultimamente existem algumas bandas de Salvador e do interior que admiro bastante como Inside Hatred, Escarnium e RCE. Quanto aos shows, esses acontecem com maior frequência na capital, sejam eles de grande porte, ou underground. No entanto, creio que a Bahia e um tanto quanto carente de grandes produções. O estado poderia estar no mapa das turnês de bandas de grande e médio porte, assim como Recife. Talvez falte algum produtor para se interessar por este mercado. Quanto a Feira de Santana, acho que o cenário passa novamente por um período de estagnação. As coisas aqui funcionam em ciclos, nos quais existem épocas com muitas bandas, bom público e certa quantidade de shows, depois as bandas acabam e as pessoas desaparecem. Seguindo essa lógica, estamos exatamente no momento de surgirem novas bandas e aparecer mais público. Também, um grande problema aqui na cidade é a falta de um espaço de convergência para o público específico de metal. Seja este espaço um bar, ou uma casa de shows, etc. Isso ajudaria bastante como um ponto de referência para as pessoas novas no cenário, local onde as pessoas pudessem se encontrar para conversar, trocar experiências, bandas tocarem, assistirem a clipes, escutarem música... Se houvesse tal espaço, haveria maior suporte para a manutenção do próprio cenário. Retomando a lógica de criação e destruição cíclica do cenário, espero que outras bandas possam vingar dessa vez e mais zines posam nascer. Duas bandas feirenses que não posso deixar de citar e que vêm segurando as pontas há um bom tempo são a Martyrdom e a MetalWar. Também existem alguns zines de qualidade, como o Total Death, Metal Discharge, Eterna Maldição e Supremacia Underground. Vida longa a todos vocês que fazem o metal de Feira de Santana.


8-) Coven Of Darkness – Yuri, além do Deformity BR, você é baterista do lendário Mystifier. Acredito que deve ser uma grande honra em tocar com eles! Como surgiu o convite para integrar a umas das mais respeitadas entidades do Black Metal nacional e mundial?

Yuri – Infelizmente houve certo conflito de interesses e não estou mais trabalhando com o Mystifier, mas realmente uma experiência ímpar poder estar tocando com uma banda que já tinha muita reputação quando eu ainda começava a escutar metal. Nem sei como é que apareceu o convite, mas num certo dia o velho Armando me chama no MSN e faz o convite. Essa vaga de baterista está sempre em aberto, pois, como o próprio Armando afirma, ele não gosta muito da classe dos bateristas em geral. Na ocasião ele me chamou par fazer uma mini-turnê marcada para o sudeste, creio que em 2007. A parceria acabou dando certo e continuamos trabalhando juntos em outras turnês e apresentações. A minha ultima viagem com a banda foi para tocar no grande NWN Fest, em Berlin, na Alemanha. Como eu afirmei no início, gostei muito da época em que pude estar junto com os caras. Aprendi bastante com eles! Hails Mystifier!


9-) Coven Of Darkness – Em 2010, vocês tocaram no tradicional festival NWN Fest, dividindo o palco com importantes nomes da cena extrema mundial como Blasphemy, Dead Congregation, Embrace Of Thorns, Proclamation, Black Witchery, dentre muitos outros. Como foi essa experiência e quais a diferenças que você notou em relação a público, organização e infraestrutura?

Yuri – Realmente foi uma experiência foda poder tocar fora do Brasil e, além disso, ter a oportunidade de conhecer Berlin. Foi uma oportunidade ímpar, pois rolaram vários contatos novos, tive a oportunidade de ter contato mais próximo com tantas dessas bandas que você citou, e, ainda andar pelas ruas de Berlin, conhecer os resquícios do muro e um por de sua história. Quanto às diferenças entre a realidade metálica aqui no Brasil e na Alemanha, não vi muita diferença no que tange a infra-estrutura do festival e o que tivemos a oportunidade de ver no Marreco’s Fest, em Brasília. A estrutura era bem parecida, material de primeira, apoio humano, bons técnicos, além de que havia dois palcos enormes! A grande questão é ter dinheiro para montar a estrutura! Se existe apoio, como no caso do Marreco’s, é possível montar um som igual ao que fazem no exterior! E isso é ótimo! Quanto aos shows menores que fizemos lá na Alemanha, a estrutura era parecida com a que encontramos em shows menores aqui no Brasil. Talvez eles tenham mais facilidade em manter casas de show especializadas em metal, sem contar que talvez seja mais barato alugar material de palco de primeira. Mas a grande questão é o público! Se a galera comparece, claro que haverá bilheteria para custear maior qualidade para os shows! Quero que fique claro que a galera daqui e tão presente quanto à de lá e, quiçá, mais insana. No entanto a conjuntura econômica de um país de primeiro mundo é melhor e isso influencia diretamente no consumo de materiais ou shows relacionados ao metal. Ou seja, não devemos nada para a Alemanha!


10-) Coven Of Darkness – Voltando a falar do Deformity BR, o Lúcio (N.E: Lúcio “Brutal” Soares, vocalista) tem um projeto com o Diego Corpsegrinder chamado Rancid Bowel. Há quantas andam esse projeto?

Yuri – Tem mesmo? Eu nem sabia disso! HAHAHAHAHAHA. A questão é que Diego é metido em uma dúzia de projetos, além de sua banda (de fuder): RCE. Eles nunca comentaram sobre esse projeto louco deles, ou se fizeram, não lembro. Mas a RCE está detonando e, ao que me parece, eles devem entrar em estúdio em breve para gravar se debut álbum.


11-) Coven Of Darkness – Eu sou um grande fã de filmes trash, gore e splatter. Você também é um admirador deste gênero cinematográfico? Quais são seus filmes favoritos e quais os que você tem visto recentemente e que pode nos recomendar?

Yuri – Eu também gosto muito desse gênero de produções tipo B. Sou um grande fã dos trabalhos de George Romero, que conseguiu lançar gênero com sua série de filmes de zumbi. Parece que não apenas eu, pois seus primeiros filmes ganharam nova roupagem e filmagem nos últimos anos, principalmente o seu clássico Night Of The Living Dead, que já foi regravado umas duas vezes. Infelizmente, ultimamente não tenho pesquisado nenhum lançamento nessa área, mas, para quem ainda não assistiu, poderiam conhecer os lançamentos da Black Vomit Filmes (brazuca): Rubão: O Canibal e Feto Morto.


12-) Coven Of Darkness – Yuri minhas perguntas acabaram. Agradeço mais uma vez pela sua colaboração. Deixo aqui um espaço final para você falar o que quiser...

Yuri – Eu que agradeço pelo espaço para falar minhas alucinações e também pela ajuda na divulgação. Agradeço também a compreensão frente a minha interminável demora em te retornar essa entrevista, mas realmente há ocasiões em que existem tantos contratempos que alguns planos devem ser adiados. O Deformity está com todo o gás, apesar de ter tido certo atraso na programação da divulgação, apresentações e composição. Agora estamos retornando ao processo de composição e nos preparando para fazer alguns shows pelo Nordeste e Sampa para fortalecer a divulgação do nosso álbum. Com isso espero poder me encontrar com alguns de vocês leitores por aí. Forças eternas ao Coven Of Darkness! Forças para você Saulo! Dismembraço a todos!




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