Entrevista - Corpse Grinder

25 maio, 2011.
Chiquinho, Flávio, Junior & Hellio Bonegrinder


Após a ótima recepção do álbum “Hail To Death Metal Legion”, um autêntico rolo compressor em se tratando de Death Metal, o Corpse Grinder lança em comemoração aos seus vinte anos de estrada (vinte e três anos para ser mais exato) o DVD “20 Years Grinding Corpses” pela gravadora Kill Again Records. Nesta conversa o vocalista/guitarrista Junior nos conta todos os detalhes envolvendo este lançamento, detalhes sobre a trajetória da banda, trocas de integrantes, dentre outros assuntos. (N.E: Esta entrevista foi realizada em 2010 para a terceira edição do Coven Of Darkness)

Por: Saulo Baldim Gandini


1-) Coven Of Darkness - Saudações Junior & Corpse Grinder! É uma honra tê-los em nossas páginas! Para começar a entrevista, o Corpse Grinder é um grupo que possui uma trajetória de mais de vinte anos carreira. Como músico veterano na cena gostaria de saber como você visualiza o atual momento do Death Metal e do Metal em geral?

Junior: Para mim também é uma honra Saulo, poder estar aqui respondendo esta entrevista para os headbangers leitores do Coven Of Darkness! Eu vejo que o Death Metal atualmente, mesmo as bandas mais undergrounds, estão mais profissionais do que as bandas de antigamente, pela facilidade que se tem hoje para se ter instrumentos e equipamentos melhores, pois antigamente era tudo muito caro. Os instrumentos e equipamentos nacionais eram muito piores que os importados, só se viam na revista Metal ou na televisão em algum show de banda gringa, então as bandas sempre tinham muita dificuldades com equipamentos para ensaiar. Os shows undergrounds também não eram diferentes e isto tudo dificultava as bandas de progredirem. Havia também dificuldade de informação, tudo era na base da carta, hoje a Internet facilita tudo e isso contribui muito para melhorar o nível das bandas de Death Metal e de todos os outros estilos de Metal. Eu só acho que esta facilidade que se tem hoje em dia para se formar uma banda acabou que muitos caras formam bandas, às vezes só para passar o tempo, não tem mais o sentimento e a garra que tinha antigamente, porque antigamente as dificuldades que existiam acabavam selecionando quem realmente queria tocar Metal, de quem queria só fazer um sonzinho para se divertir. Hoje em dia você vê bandas iniciantes tocando com Jackson, Gibson, B.C. Rich, Pearl, Tama, Marshall e às vezes ainda reclamam (risos) Eu queria ver quanto tempo iriam durar essas bandas se começassem a tocar com Tonante, Dolphin, Pinguim e Cyclotron.


2-) Coven Of Darkness – Em comemoração aos vinte anos de estrada vocês lançaram com o apoio da Kill Again Records o DVD “20 Years Grinding Corpses” contendo um show completo no Hammer Rock Bar em Campinas (SP), um bônus show, dois vídeos clipes, etc. Fora o CD que contém 10 faixas regravadas e mais dois covers dos deuses do Death (“Baptized In Blood”) e Massacre (“Cryptic Realms”). Um autêntico presente aos die-hards fãs do grupo! Como surgiu a idéia deste lançamento e como está sendo a reação dos fãs diante dele?

Junior: A idéia inicial seria gravar somente o CD de músicas antigas regravadas e os covers para comemorar os 20 anos da banda e a idéia de lançar um material duplo em DVD/CD foi da Kill Again, que arrumou todo o esquema de gravação para o show no Hammer Rock bar em Campinas, para que o show fosse o show principal do DVD. A reação tem sido a melhor possível, muitos que compraram o DVD/CD escrevem elogiando e as resenhas que estão saindo nos zines e sites estão excelentes. Muitos que compraram este novo material, depois de verem o encarte de 12 páginas contando a história da banda com as fotos dos materiais antigos, escrevem querendo adquirir os CD’s e as demos antigas. 

  
3-) Coven Of Darkness – Por falar nestes covers, quem teve a idéia de gravá-los e porque vocês optaram por essas músicas?

Junior: A idéia foi minha e todos gostaram, porque nós já tocávamos essas músicas nos shows e a “Cryptic Realms” do Massacre nós até já tínhamos gravado ela na demo de 1994 e quando resolvemos gravar o CD comemorativo de 20 anos com músicas antigas regravadas, resolvemos coloca-las porque além de serem dois covers que fizeram parte da história dos shows do Corpse Grinder, são músicas do Chuck Shuldiner (Death) e do Kam Lee (Massacre), que foram os caras que fizeram à música “Corpse Grinder”, que foi lançada pela primeira vez na demo do Death - “Reign Of Terror”, quando o Kam Lee ainda era do Death e que foi a música que deu o nome a nossa banda, portanto não teria um jeito melhor de fechar o CD comemorativo de 20 anos.


4-) Coven Of Darkness – Fiquei impressionado com o álbum “Hail To Death Metal Legion” devido a sua qualidade sonora e gráfica. Reparei também que vocês evoluíram muito, pois conseguiram manter a essência do Death Metal na estrutura sonora, priorizando a força do estilo com dosagens cavalares de peso e velocidade! Conte-nos como foi o processo de composição e a repercussão que este trabalho teve e ainda está tendo no Brasil e no exterior. Você está satisfeito com este álbum ou há algo que você gostaria de ter mudado?

Junior: De modo geral ficamos satisfeitos com o resultado, mas ouvindo sempre aparecem alguns pequenos detalhes que a gente gostaria de ter mudado, mas são poucas coisas.
As músicas deste álbum foram feitas por mim, com exceção de “Sinister Winged Minstrel”, que foi feita pelo Hélio e as letras foram escritas pelo Flávio e pelo Rômulo, mas na hora de montar a música no ensaio, todos participam e dão suas opiniões até acharmos o melhor jeito para tocar a música que esta sendo feita. A repercussão tem sido muito boa no Brasil e tem tido bastantes cópias para o exterior que a Kill Again tem enviado através de trocas.


5-) Coven Of Darkness - Além da já citada qualidade sonora, o álbum também tem mais personalidade. As referências sonoras de bandas como Death, Autopsy, Incantation e Benediction continuam intactas, mas com cara ainda mais própria. O que você acha que é essencial para a banda demonstrar tal unicidade?

Junior: Eu acho que é sempre estar firme em seu propósito. Nós somos uma simples banda de Death Metal e não queremos inventar nada, por isso é que temos influências das bandas que você citou e de outras. No Death Metal tudo que se tinha de fazer já foi feito, mas dentro do já que foi feito usando os mesmos tipos de riffs, solos, arranjos e mais um pouco de criatividade e inspiração a gente vai construindo novas músicas e isto aliado ao tempo que tocamos junto, a forma que compomos, nós fomos desenvolvendo nossa característica própria e nossa identidade.


6-) Coven Of Darkness – “Hail To Death Metal Legion” foi o segundo álbum lançado pela gravadora Kill Again Records. Como você analisa o trabalho desenvolvido pela gravadora? Houve interesse em licenciar este trabalho e o anterior “Celebration Of Hate” no exterior?

Junior: Estamos muito satisfeitos com o trabalho desenvolvido pela Kill Again, que sempre nos apoiou, ajudou a divulgar o Corpse Grinder desde o início, antes de ser um selo, com o Fanzine Metal Blood, e é responsável em grande parte por firmar o nosso nome na cena Metal Nacional. Quanto ao interesse em lançar nossos álbuns no exterior, o “Celebration of Hate”, que eu saiba não houve nenhum contato com selo do exterior para lançá-lo, porque este foi o primeiro álbum completo lançado pela Kill Again, antes havia lançado só uma coletânea e na época o selo ainda tinha poucos contatos, Já o “Hail To Death Metal Legion” houve contato com a Ibex Moon (USA), mas não tem nada de concreto ainda e eu não sei se a Kill Again ainda pode acertar o lançamento com este selo americano.


7-) Coven Of Darlkness – “I Despise Human Race”, “Sinister Winged Minstrel”, “Deceivers Of The Faith”, a faixa titulo “Hail To Death Metal Legion”, realmente fica difícil apontar uma favorita no meio de tantas ótimas composições. Quais músicas são suas prediletas e quais têm tido maior receptividade dos deathbangers nos shows?

Junior: Eu gosto muito da “Deceivers of the Faith” e “Necrofragments in the Ocean of Blood”. Essas músicas também tem muito boa receptividade entre os deathbangers nos shows e em cada show que fazemos a agitação é maior em uma musica diferente. Felizmente não tem nenhuma música que se destaca muito das outras, quem compra o CD alguns gostam de uma, outros gostam de outra e isto é legal, que a gente vê que todas agradam os críticos cada um destaca uma música, então eu vejo que o álbum todo chama a atenção dos bangers e muda só a preferência de música para música.


8-) Coven Of Darkness – A letra da música “Lady Of The Grave” é uma homenagem a uma personalidade local da cidade de Machado (MG). Quem é ela e como pintou a idéia de abordar este tema?

Junior: Sim, esta música fala sobre a Maria do Cemitério, porque ela é uma pessoa única, porque ninguém nunca viu e nem ouviu falar de uma coveira em todo o mundo e isto chama muito a atenção, tanto que ela foi entrevistada e apareceu em vários programas de televisão, mas não foi só por ela chamar a atenção e ter aparecido na televisão e sim por se tratar de uma coveira, o que a torna uma pessoa misteriosa, que diz conversar com os mortos durante a noite no cemitério, onde ela caminha naturalmente e sem contar as inúmeras estórias que ela conta que são dignas de filmes de terror. Diante deste universo de lendas, que cercam a Maria do Cemitério e por se tratar de uma personalidade totalmente “Death Metal” e “underground” de nossa cidade, nós achamos que uma música falando sobre ela caberia como uma luva no set list de nosso álbum.


9-) Coven Of Darkness – Mudanças de formação é um fator extremamente complicado, pois na maioria das vezes são traumáticas e trazem diversos problemas para os grupos. O baterista Rômulo, um dos fundadores do Corpse Grinder, deixou o grupo. Como vocês enfrentaram essa situação?

Junior: Realmente mudanças na formação são complicadas e quando é mudança de baterista, o problema é maior, porque o resto da banda também fica impedido de ensaiar e todos perdem o ritmo literalmente. Foi muito foda, quando o Rômulo depois de um ensaio, levantou-se da bateria e disse que não queria tocar mais, mas depois analisando como ele estava se comportando, não demonstrando o mesmo interesse por shows e ensaios como antes, acabamos que não ficamos tão surpresos. Depois que vimos que o Rômulo não iria voltar atrás na sua decisão, fomos procurar outro baterista e achamos um que já estava do nosso lado a um bom tempo, indo nos ensaios e ajudando o Rômulo a montar a bateria nos shows, o Kleber, que era baterista de uma banda cover do Black Sabbath chamada Born Again, que estava encerrando as atividades. Quando nós o chamamos, felizmente ele topou de primeira e aceitou o desafio, mesmo se tratando de um estilo bem diferente do que ele tocava, e com muitos ensaios e muita dedicação, em pouco tempo ele já estava tocando nossas músicas perfeitamente e até ajudando nas novas composições.


10-) Coven Of Darkness – Junior, todos nós sabemos que manter uma banda de Death Metal é muito difícil, no Brasil então é mais complicado ainda. Mas vocês estão firmes até hoje, 666% no underground e levantando a bandeira do Old School Death Metal. Durante todos esses anos o que você tem aprendido com todos esses problemas? Tanto no nível musical como pessoal? De onde vem a força e a inspiração para continuar?

Junior: Na vida quanto mais você vive, mais você aprende em tudo que você dedica e faz por prazer, porque se não fizer com prazer, automaticamente não haverá dedicação e com certeza o resultado não será dos melhores e no nosso caso, que é tocar Old School Death Metal, o prazer que temos é a satisfação de ver sair um novo material e ser bem comentado pela crítica especializada e principalmente pelos headbangers, é fazer um bom show e agradar quem pagou para assistir, não é se dedicar esperando ganhar muito dinheiro, porque sempre tivemos os pés no chão. Nós estamos nessa até hoje enfrentando todos os problemas que surgem, porque acima de tudo somos fãs de Metal e na verdade somos tão fãs, que não nos contentamos em somente ouvir Metal, por isso formamos o Corpse Grinder, para fazer um som de “headbanger para headbanger”. É no amor pelo verdadeiro Metal, quando ouvimos bandas como: Death, Autopsy, Massacre, Benediction, Hellhammer, Bolt Thrower e outros que nós nos inspiramos e são nas lembranças de muitos shows, que chamamos de verdadeiras “Celebrações Undergrounds”, que vem a nossa força para continuar e poder passar por bons momentos como estes novamente, não que nunca tivemos shows ruins, mas estes foram bem menos e não nos abalaram, porque nossa força e garra para espalhar o Death Metal é maior do que tudo.  


11-) Coven Of Darkness – Vocês tocaram no festival Roça N´Roll na cidade de Varginha (MG), como foi esta experiência? Como está a agenda de shows do grupo? Já houve alguma proposta para tocar no exterior?

Junior: Nós já havíamos tocado em uma das primeiras edições deste festival, mas com esta grande estrutura atual foi a primeira vez. Infelizmente o nosso horário foi muito ruim, fomos a primeira banda de um dos palcos, a segunda do festival que teve dois palcos, a aparelhagem não estava tão bem regulada no nosso set, tivemos alguns problemas técnicos e o sol do cair da tarde direto em nossa cara, também atrapalhou bastante, então esses problemas prejudicaram um pouco nossa apresentação. Mas mesmo assim muitos vieram conversar e elogiar nosso show depois que descemos do palco e o que me deixou mais contente foi ver várias pessoas reclamando aos organizadores e perguntando porque colocaram nós para tocar tão cedo, muitos que foram para ver o nosso show, quando conseguiram entrar o nosso show já havia acabado. Quanto a nossa agenda de show, temos um show em São Paulo dia 14 de Agosto e dia 26 de Agosto aí em Pouso Alegre, estamos na expectativa. Temos outros shows em vista mais ainda não estão confirmados e tocar no exterior já houve proposta, mas nada de concreto.


12-) Coven Of Darkness - Para encerrar, como estão os preparativos para o novo álbum de estúdio e quais os planos para o futuro?

Junior: As músicas para o novo álbum já estão todas prontas e serão oito músicas inéditas, mas este novo trabalho ainda não tem nome. No momento estamos ensaiando para acertar os últimos detalhes e estamos planejando ir para o estúdio em setembro.


13-) Coven Of Darkness - Junior gostaria de agradecê-lo pelo tempo cedido. Muito obrigado mesmo!  Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Coven Of Darkness.

Junior: Eu que lhe agradeço pela a oportunidade de falar aos leitores sobre o Corpse Grinder e digo a todos que continuem a ler e a apoiar os zines nacionais, porque são neles que estão as verdadeiras bandas de Metal underground, que como os zineiros lutam para manter a tradição e a chama do verdadeiro Metal acesa.


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