Entrevista - Infamous Glory

27 agosto, 2011.

Augusto, Gustavo Piza, Kexo & Leandro D. "Coroner"

Com mais de dez anos de estrada os paulistas do Infamous Glory, lançaram no ano passado seu aguardado debut, intitulado Deathstrike Revenge, que é a junção dos dois EPs Order Of Doom e Will To Dismember, lançados em 2005 e 2009 respectivamente. Nesta entrevista, muito bem humorada diga-se de passagem, o vocalista e guitarrista Kexo nos conta um pouco dos detalhes envolvendo o lançamento desse trabalho, o começo do grupo e mais uma porrada de assuntos bacanas. Confiram!

Por: Saulo Baldim Gandini


1-) Coven Of Darkness – Saudações Kexo! Primeiramente obrigado pelo interesse em responder esta entrevista. Antes de começar as atividades com o Infamous Glory você estava envolvido com algum outro grupo ou tu apenas era um headbanger que apoiava a cena indo a shows e comprando materiais?

Kexo - E aí cara é um prazer responder essa entrevista! Então, a real é que eu sempre toquei quando comecei a ouvir som, descolei um baixo e já comecei a tirar umas músicas do Iron Maiden. Minha primeira banda foi com os moleques da escola e a gente tirava covers e fizemos dois sons próprios que inclusive saíram na primeira demo do Infamous anos depois. Antes de montar o Infamous Glory eu toquei alguns anos na banda Jackknife de Heavy/Thrash Metal.

2-) Coven Of Darkness – Quais foram os motivos para você formar o Infamous Glory em 1999? Algum grupo ou registro em particular lhe impulsionou a tomar essa atitude ou tudo aconteceu de forma natural?

Kexo - Cara, como eu te disse, desde a época de escola eu e uns amigos tentávamos tocar algo similar a um Death Metal. Mais o lance é que na época ouvíamos mais Heavy Metal do que Death Metal propriamente dito então era um lance meio sem pé nem cabeça. Quando o Jackknife acabou eu resolvi convidar o guitarrista da banda para tocar bateria na minha “antiga banda”. E assim agente fez o primeiro ensaio com o nome de Infamous Glory.

3-) Coven Of Darkness – Complementando a pergunta acima, quais foram as bandas e trabalhos que moldaram sua visão musical?

Kexo - Pow na época eu estava começando nesse mundo do som extremo. Acho que nesse campo os discos que mais me impressionaram foram o Subconcious Terror do Benediction, Covenant do Morbid Angel e o None Shall Defy do Infernäl Mäjesty. Mas é claro que na época tinham as coisas que a gente já gostava muito antes. Acho que uma das bandas que mais gostávamos na época era o Nuclear Assault. Isso para falar mais nas influências da banda mesmo. Se for falar do meu gosto pessoal passo o dia inteiro aqui falando, melhor não HAHAHAHA

4-) Coven Of Darkness – O Infamous Glory possui mais de dez anos de atividades no underground. Qual o balanço que você faz sobre todos esses anos de grupo? Alguma vez você chegou a pensar em jogar tudo para o alto e fazer outra coisa?

Kexo - Cara na realidade até 2004 mais ou menos a banda era uma zona. A gente fazia coisa de três shows por ano e ensaiava todo final de semana como desculpa para se trombar e tomar umas geladas. De 2004 para cá que as coisas mudaram um pouco com a entrada de Leandro D. e J.C., a gente começou há pensar um pouco mais na banda e correr atrás de shows e lançar algum tipo de material mais profissional. Eu já pensei sim em largar tudo algumas vezes, muito porque desde o começo eu era o único que queria algo mais disso tudo além de uma diversão de final de semana, mais nem sempre o resto do pessoal encarava dessa forma. Mais ainda bem que nunca fiz isso, porque hoje estamos aqui ainda enquanto muitos caíram. Sobre o balanço desse tempo, acho que o mais importante foram os momentos divididos, as risadas e as cervejas que rolaram entre grandes amigos esses anos todos. O resto vem ao seu tempo.

5-) Coven Of Darkness – Uma curiosidade, de onde você se inspirou para escolher o nome Infamous Glory? Existe alguma relação com a música instrumental Infamous Glory do Krisiun presente no álbum Black Forces Domain?

Kexo - HAHAHAHA Nunca ninguém tinha me perguntado isso antes. Mas foi sim por causa do som do Krisiun. A gente estava procurando um nome na época, não queria o nome que usávamos na época da bandinha da escola. Eu queria o nome Massacra. Mas existem mil bandas com esse nome e a gente estava ficando maluco com isso. Eu gostava muito desse álbum na época e sugeri meio que de bobo e acabou ficando (risos)

6-) Coven Of Darkness – Em 2000, o Infamous Glory lançou a demo S.T.F.A.R.O.B.M. e em 2001 foi a vez da demo Nighttime Holocaust. Conte-nos como foi o processo de gravação de ambas, onde foram gravadas e a repercussão das mesmas na cena?

Kexo - A primeira demo S.T.F.A.R.O.B.M., que depois foi relançada ainda em tape com o nome reduzido de The Ritual Of Black Magic foi gravada em um estúdio aqui na Lapa em São Paulo, tudo ao vivo sem qualquer edição ou adição de nada depois. Foi um ensaio gravado na real. Na época a gente vendia algumas tapes nos shows que fazíamos, mas como eram poucos acho que nem girou muito por ai esse material. Acho que ele girou mais anos depois com o relançamento em tape do que na época. Mesmo assim acho que se 10 pessoas tiverem essa tape é muito (risos). Nighttime Holocaust foi no mesmo esquema, mas em outro estúdio ainda com a primeira formação da banda. Porém depois de gravada a gente não pirou muito nos sons e na gravação e resolveu não lançar aquilo. Ela até consta em algumas discografias nossas mas a gente nunca gravou e passou uma tape se quer desse material. É um lance que eu tenho em MP3 no meu PC e só.

7-) Coven Of Darkness – Nessas demos o som do grupo era mais influenciado por nomes como Benediction, Deicide e Dismember. A partir da próxima demo, Massacre Celebration, as influências do “Swedish Death Metal” ficaram ainda mais latentes. Isso ocorreu de forma natural ou as mudanças de formação ocasionaram isso?

Kexo - Cara isso foi totalmente sem querer, mesmo porque, eu ainda acho que a Massacre Celebration tem uma pegada mais “americana”. Com a entrada do batera novo, Gustavo P., a gente estava na esperança de colocar mais uns blast e ficar um pouquinho mais brutal. Nada de mais, nunca fomos fãs do rolê da metranca sem parar. O grande lance do Death Metal sueco é a forte influência de Heavy Tradicional e Punk/Hardcore. E como eu disse tive uma forte doutrinação no Heavy Metal e sempre tive uma simpatia forte por bandas de Punk Rock e Hardcore então acho que essa "vibe" sueca meio que ocorreu naturalmente. Mas é claro que com a entrada de Leandro e J.C. alguns anos depois da Massacre Celebration ser lançada isso foi meio que intencional, porque achávamos que nos encaixaríamos bem nesse estilo. Então desde das composições até o timbre da guitarra passaram a ser pensados nesse sentido.

8-) Coven Of Darkness – O Infamous Glory passou por diversas mudanças em sua formação até estabilizá-la em 2005. Nessa época vocês estavam com planos para lançar um debut álbum fato que não se concretizou. Quais as razões para vocês terem tomado essa atitude e optado por lançarem o EP Order Of Doom?

Kexo - Na época a gente entrou no estúdio com nove sons na intenção de lançar um disco mesmo. Essa foi a primeira vez que a gente estava tocando bastante e achávamos que era a hora certa de lançar algo mais profissional. O problema começou porque a gente nunca tinha entrado em um estúdio para gravar tudo separado. Estávamos mal ensaiados e sofremos muito com esse processo de gravação. E para piorar as coisas o selo que estávamos negociando o lançamento faliu. Ainda tentamos mandar para mais alguns selos mas sem nenhum sucesso. Passado algum tempo ouvindo o CD gravado chegamos a conclusão que aquilo ali estava uma porcaria (risos). Tinha muitos erros e já que não tinha sido lançado até então não seria mais. Resolvemos o problema selecionando algumas musicas apenas, as que pensávamos estarem melhor executadas, e resolvemos soltar na Internet para download o material sobre o mesmo nome Order Of Doom.

9-) Coven Of Darkness – Houve um intervalo de quatro anos entre os EP´s Order Of Doom e Will To Dismember onde vocês aproveitaram e fizeram várias apresentações dividindo o palco com grupos do porte de Master, Dismember, Isacaarum, ROT, dentre outros. Como foi a experiência em tocar ao lado desses grupos, sabendo que alguns deles serviram de inspiração para o desenvolvimento do Infamous Glory?

Kexo - Então com esse EP “cibernético” a gente foi quebrando um galho e começamos a tocar mais ainda que antes. Em alguns shows específicos nós queimávamos alguns CDs-R com o EP e levava para o show para distribuir. Quando o Life is a Lie foi para a Europa eles levaram alguns CDs nossos também e assim fomos levando. De todos esses shows o mais foda foi com certeza o com o Dismember. Cara a gente parecia criança com brinquedo novo, sorriso na cara e tudo mais. Lembro que no fim do set tocamos um cover do At The Gates e os caras do Dismember saíram do camarim para ver, foi foda nem tenho palavras para dizer. Com o Master foi bem legal também, é uma banda que eu gostava muito quando era mais moleque, pena que a banda esta remontada, e eu nem curti muito o show deles. De resto só tocamos ao lado de grandes amigos e o que valeu foram as muitas cervejas antes e depois do show HAHAHAHA

10-) Coven Of Darkness – No ano passado o Infamous Glory finalmente lançou seu full-length, Deathstrike Revenge, após todos esses anos de batalha no underground. Porque vocês optaram em juntar seus dois EP´s neste material?

Kexo - Cara, o lance do Will To Dismember é que era para ser um material para um Split. Mas ele nunca rolou e a gente ficou com aquela gravação parada. Então pensamos em juntar o Order Of Doom com essa nova gravação e lançar algo. Desde 2004 que a gente queria ter algo lançado e profissionalmente prensado. Achávamos que o Infamous Glory merecia isso. Então simplesmente juntamos os dois e mandamos rodar!

11-) Coven Of Darkness – Deathstrike Revenge possui um trabalho gráfico simples e foi lançado no formato SMD, o que deixou o preço do material extremamente acessível. De quem foi a idéia de lançá-lo dessa maneira e além do baixo custo, quais as outras vantagens que esse tipo de formato oferece?

Kexo - Na real isso foi indicação do nosso grande comparsa no crime o Sr. Diego, baixista do Blasthrash. Ele deu o toque que uns amigos tinham prensado assim e o custo era bem baixo. Então eu fui atrás e me informei dos valores e tudo e realmente era algo que podíamos pagar. Corremos atrais de alguns selos para rachar o prejuízo com a gente e já era. Cara acho que o maior atrativo foi o baixo custo mesmo, tanto para prensar como para vender. É foda, hoje em dia quase ninguém mais compra CD, pois é muito mais fácil baixar na Internet. Os poucos que ainda querem colecionar algo das bandas que gostam, chegam nas lojas e CD que ele quer custa 50 pau. Aí não tem quem agüente. Se você vai a um show, vê uma banda que gosta e o CD deles custa 5 reais, você vai comprar. E assim todo mundo sai ganhando, você comprou um CD de uma banda que curtiu sem fazer um rombo no seu orçamento e a gente divulgou nosso som. Estamos com um próximo lançamento prensando nesse momento. O Split com a banda The Black Coffins. Esse lançamento será em CD normal mesmo, mais só porque conseguimos fazer de um jeito em que o preço final não seja abusivo. Acho que o importante fazer o cara do underground se interessar de novo por colecionar CDs das bandas que gosta.

12-) Coven Of Darkness – O Infamous Glory participou recentemente do festival Death Metal Alliance 2 dividindo o palco com outros grandes nomes do underground de SP Anarkhon, Vomepotro e Repulsive Concept. Como foi a recepção do deathbangers com as músicas do Infamous Glory? Parece que rolou até um momento “stand up comedy” em um determinado momento... (risos)

Kexo - O Death Metal Alliance é foda cara, é um lance meio do Cristiano do Vomepotro e todo mundo ajuda como pode. Eu ajudo muito na divulgar esses lances. É o segundo ano que a gente toca e dessa vez eu acho que o pessoal curtiu cara, vendemos todos os CDs que levamos e rolou até aplausos no fim das músicas (risos). Ali era todo mundo brother e é do caralho para gente tocar com esses caras que são dinossauros do Death Metal paulistano. A única banda que não conhecia era o Repulsive e caralho fiquei abismado com o show dos caras, o batera deles devia estar tocando no Rotten Sound. Foi muito foda! Sobre esse lance do stand up foi o seguinte, no meio da segunda música estourou o pedal do batera. Ai no intervalo de uma para outra ele demorou um pouco para arrumar e eu senti que o pessoal estava meio inquieto, aquele silêncio chato sabe? Eu resolvi falar alguma besteira, só estávamos todos entre amigos ali e o pessoal sabe que eu sou um idiota completo ficaram me atiçando a contar uma piada, então eu contei (risos) Cara eu acho que a gente tem que se divertir saca? O dia que eu parar de me divertir fazendo o que eu amo, eu largo tudo. Não entendo muito esse lance do metal extremo de nego ser cara fechada e só falar de um jeito rebuscado, mais cada um cada um né?

13-) Coven Of Darkness – São Paulo é um lugar que possui inúmeras bandas de qualidade em vários estilos, vide vocês, Anarkhon, Em Ruínas, Amazarak, Vomepotro, etc...  Qual sua opinião e como é a relação do Infamous Glory com a cena paulista?

Kexo - Eu concordo com você cara, tem muitas bandas boas aqui. Mais também tem muita banda ruim, o que eu acho que é comum em grandes centros onde existe um milhão de bandas! Acho que a melhor cena que eu vejo aqui é a Grindcore. São Paulo tem alguns das melhores bandas de Grindcore do mundo nessa última década. Mas é claro que em todos os estilos temos muita coisa boa acontecendo. Só colar no rolê para tomar uma gelada que você vai ver do que eu estou falando! A nossa relação é boa cara, tem que ser, nunca gostei desse lance de ficar arrumando treta com gente que esta na mesma luta que você. Inclusive toda a idéia do Death Metal Alliance é esse juntar o pessoal que quer fazer alguma coisa pelo metal paulistano!

14-) Coven Of Darkness – Kexo uma coisa que acontece de tempos em tempos no underground são “tendências”. Já tivemos vários exemplos disso como as tendências do Brutal Death Metal, Black Metal e há algum tempo atrás do retro Thrash. Ultimamente estou reparando que estão surgindo vários novos grupos, alguns muitos bons por sinal, com uma pegada “Swedish Death Metal” como, por exemplo, o Maim, Morbus Chron, Brutally Deceased, Tormented, etc... Eu sempre digo que nessas situações quem irá ficar são os melhores. Você que é um cara veterano na cena, como tu analisa esse retorno dessa sonoridade?

Kexo - Na real não sei se tenho uma opinião formal sobre esse lance das tendências. Posso dizer que a gente sobreviveu todas as que você citou. Começamos na época do Brutal Death Metal, onde nego até vinha me falar que o Obituary não era Death Metal porque não tinha blast beat e absurdos do tipo. Passamos a do Black Metal e a do Thrash também. Mas sempre fazendo nosso rolê cara. A gente cansou de ser a única banda de Death Metal no meio de um monte de Thrash, e isso nunca foi problema para nós e acho que nem para o público. De uns tempos para cá tem rolado um "boom" de bandas de Crust, e a gente está lá no meio dos caras tocando também. Não temos grilos com isso. Mas desde época do Thrash Metal eu dizia que no começo da próxima década seria o revival dos anos 90 e o Death Metal viria com força máxima. Isso é legal porque aparece um monte de banda nova fazendo aquele som véio que eu gosto de ouvir. Umas fazendo bem, outras fazendo mal, mas é assim mesmo. Mas acho que para a gente não muda nada cara. Porque estaríamos tocando isso e nos divertindo do mesmo jeito se a moda ainda fosse o Kaoma.

15-) Coven Of Darkness – Meu amigo minhas perguntas acabaram. Agradeço pela entrevista! Deixe registrado aqui os planos futuros do Infamous Glory e suas últimas palavras...

Kexo - Cara eu gostaria de agradecer você pelas perguntas, eu me diverti muito respondendo e lembrando de muitas coisas! Valeu mesmo a força! Os planos do Infamous Glory é não parar nunca! Estamos com esse Split que eu disse saindo do forno no final de Setembro deste ano. E já estamos gravando (a passos de neném) o próximo álbum, o primeiro de inéditas. Um álbum completo, sem EP, sem compilação, nada. Serão 10 sons de puro Death Metal! Mas ainda não tenho previsão porque estamos fazendo tudo com muita calma. Valeu aí de novo e muito Dismember para o pessoal daí pois faz bem a saúde! 







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